Inexistem, na formação histórica brasileira, períodos sem música da vida
coletiva. As investigações do nosso passado, no tempo e no espaço, estabelecem,
via de regra, não só a presença, mas ainda a intensidade das manifestações
musicais do nosso povo. O que cumpre admitir-se, tomando-se por base o material
englobado desde os primeiros cronistas até os modernos historiadores e
sociólogos, é que recolhemos antes fortes indícios da riqueza da prática da
música no Brasil do que a configuração do quadro exato.
Torna-se lícito admitir a grandeza do quadro, mas suas proporções são
ainda maiores do que supomos, ao nos louvarmos na documentação já recolhida. A
música, certamente, escapa aos propósitos da grande maioria dos historiadores.
E a despeito da vasta e preciosa documentação que tende a desaparecer na
voragem do tempo, cada sondagem a que se proceda no passado musical do Brasil
trará o testemunho da palpitante e generosa prática da arte, cujos primeiros
expoentes surgiram no período colonial.
O Tercio (e
não Tercis como
anteriormente publicado), que inicia esta valiosa gravação, data de 1783. Esta
gravação torna a mostrar-nos – na partitura elaborada, bem assim como o
respectivo contínuo, pelo Maestro Toni – que a denominação de música barroca dada à criação dos
compositores que floresceram àquela época, nas zonas de mineração aurífera de
Minas, é imprópria, porque se trata de música que recebe a influência direta do
classicismo europeu. Com quinteto de cordas, o Andante Lento, para soprano, contralto e baixo, impressiona pela
extrema, ideal pureza, da inspiração, em um contraponto sempre límpido, de
comovente inocência. O Padre Nosso,
para coro – que o admirável Coral
Artis Canticum, regido pelo Maestro Nelson de Macêdo, explode logo no
primeiro compasso – é uma página de alta eloquência mística. A Ave-Maria, tem um largo dueto de
soprano e contralto, de delicadeza extrema, que vai até a metade da oração.
O Glória é majestoso,
com seu dueto, que tem uma célula rítmica incisiva, de soprano e contralto.
Estas composições, bem como as demais que constam desta gravação, são
pela primeira vez apresentadas em disco. O fenômeno da criação da grande
música, em um meio sem nenhum contato direto com os centros da cultura
universal, é provavelmente único no mundo. Há muito de mistério e de milagre na
arte musical que floresceu em Minas e se equiparam, por sua força, à arte
escultórica – esta sim, barroca – do Aleijadinho.
REFERÊNCIA
Os Cameristas. Lobo-de-Mesquita. Disponível em: < http://www.sul21.com.br/blogs/pqpbach/2012/05/28/coral-artis-canticum-os-cameristas-lobo-de-mesquita-padre-jose-mauricio/ >. Acesso em: 15/05/2012
Os Cameristas. Lobo-de-Mesquita. Disponível em: < http://www.sul21.com.br/blogs/pqpbach/2012/05/28/coral-artis-canticum-os-cameristas-lobo-de-mesquita-padre-jose-mauricio/ >. Acesso em: 15/05/2012
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